terça-feira, 2 de setembro de 2008

Vermelha de Vergonha.

Há dias em que ser um ator é a pior parte do negócio. Seria mais fácil se eu simplesmente observasse e admirasse tudo por fora, encarando todos, profundamente, para descobrir o que tanto escondem atrás das impressões que deixam. Participar é comprometedor, você é parte das acusações e das culpas que te incluem no relacionamento.

Ser espectador é como estar em frente a televisão e presenciar essa loucura toda sem a necessidade de se comprometer e ainda ter a liberdade de ir pegar uma pipoca para assistir de camarote o quebra-pau. Eu nunca participo de nada quando sento no sofá e vejo a telinha, sou somente uma peneira que filtra cada informação com cuidado para interpretar a situação que eu admiro.

Em algumas situações a vontade universal é fingir que você não existe e que nunca fez parte daquilo, é tudo culpa daquela sensação que te deixa com as bochechas intensamente vermelhas quando está todo mundo olhando, ou então quando a única pessoa que deve te ver impecável te flagra no pior momento possível. Seria melhor que eu não tivesse nunca existido e fosse um mero espírito que norteia os vivos tentando, em vão, contracenar em no palco que, para mim, só tem espaço na platéia.

Infelizmente, ou felizmente no mundo real eu tenho espaço reservado no palco do teatro da vida, onde todos fingem que vivem e ninguém entende o que é entrar em cena. Todas as minhas ações devem estar organizadas em uma cadeia para eu garantir que os acontecimentos sejam resultados na minha trama que varia entre o racional e os lamentos da emoção.

Se o ator é aquele que age, então o meu drama é viver. Mesmo insistindo em me tornar platéia, jamais serei; minha sina é presenciar somente minha vida. Vou desejar sempre ser o diretor, sem ter arrependimentos diante de erros e medos, simplesmente ter o olhar crítico e dizer “corta”. Quer coisa melhor do que tomar as decisões, analisar tudo e não sentir a culpa.

Muito mais do que querer fugir, eu quero desencarnar deste compromisso de arrependimentos e desejos que não abandonam nunca os corpos dos vivos. Talvez fosse melhor estar apodrecida no chão de um caixão sendo parte do nada como o vácuo que não sente nada, porque toda a dor é invisível aos olhos dele.

Qual o motivo de sentir, se não existe explicação para nada? Aguardo ansiosamente o dia que eu morrer para ver todas as explicações destas dúvidas intermináveis. Só espero não me desapontar lá do outro lado, mas talvez minha curiosidade insaciada torne-se parte do vazio e, como vício, continuarei sem saber.

2 comentários:

Kim disse...

olha a liebe luv, toda envergonhada, pq fica todo mundo olhando pra vc..............mas pera, isso é bom, vc é narcissista mesmo XD
brincadeira!!
mas imagina vc sendo só espectadora, tipo espectadora do mundo né, uma coisa meio deus misturado com cinema (pq pega pipoca foi demais ein =D).
mas c'est la vie liebe luv, vc num é diretora de cinema!! XD
(imaginei vc gritando "COOOOOOORTTAA")
OH LOOOOOOOOOOKOOOOOOO MEUUUUUUU.......
só num curti uma coisa nesse seu textinho, essa parada de aguardar a morte ai, po, que coisa mais dark,quase gótica ein!!! XD
num é legal num, vc morrendo é triste =(
mas é isso ai, como sempre prometido, mais um super comment do seu personal commenters.........oh loko meeeeuuuu!!! =D

Anônimo disse...

Oiê,a gente sente o bom eo ruim, porque sentir é viver e é isso que vale à pena, sentir e naõ passar batido. Não espere que a morte solucione mistérios,tão pouco procure as explicações na terra,pois todas elas existem neste céu próprio que cada um carrega. Parabéns pelo blog, você escreve bem e é sensível.