quinta-feira, 31 de julho de 2008

A ponta do nariz formiga.

Eu nunca fui uma garota de beber. Preferia tomar suco enquanto todo mundo tomava a rodada de chope. Eu não sentia prazer naquilo, era ruim, o que, para mim, significava que beber era algo de pessoas desequilibradas, que estavam mal consigo por algum motivo, ou então o hábito daqueles que queriam parecer mais velhos, mostrar que já estão maduros. Podia parecer idiota, mas era isso que eu achava. O mais importante era cuidar do meu corpo sem tomar essas bebidas desnecessárias.

Um dia, porém, vi-me diante de uma situação na qual eu não tinha escapatória. Os elementos que moram comigo estavam interessadíssimos em comprar uma bebida desnecessária. Eu como uma bixete no assunto não sabia nem qual bebida era melhor para o momento: “beber até ficar retardada dentro da nossa casa”.

Elas escolheram uma lá. Uma tal de Natasha. Coitada da mulher, usamos e abusamos dela a noite inteira. Eu não sabia dizer se era boa ou ruim, nunca tinha tomado destilado de verdade, só bebericado, mas isso não vale.

O esquema era Natasha misturada com Fanta Laranja ou Sprite. Exótico. Era tudo novo pra mim, e as meninas estavam achando o máximo o fato de eu nunca ter feito isto. Chegamos em casa e montamos os copos. Eu peguei um que era considerado mais fraco perto dos outros. Mal sabia eu que diante de qualquer álcool toda bebida é forte para mim.

Sentamos na sala, somente as três, falando besteiras e colocando em dia a fofoca da faculdade. Falar mal de professor é muito bom! Ainda mais quando você começa a ficar alegre e ri de qualquer comentário idiota que alguém fizer. Neste dia o mural de besteira da casa ganhou várias frases memoráveis.

Eu estava alegre. Eu notei a diferença quando meu nariz começou a formigar, a minha alegria de ser aumentou e as risadas começaram a ficar intermináveis. Meu Deus, era só olhar para a cara de uma delas que eu ria. Para completar a televisão estava ligada e tivemos a audácia de deixar em um filme, no mínimo, zoado com um árabe dançando por uma mansão. Era só olhar para a tela e que todas choravam de rir.

A situação piorou quando achamos que seria legal imitar a dancinha do árabe. Que lindo. É uma beleza a nossa janela não ter cortina e qualquer outro prédio poder ver essas cenas maravilhosas! O melhor disto é quando você descobre que existe outra republica, só de garotos, em um destes prédios com visão privilegiada para a nossa sala, com binóculos nas mãos para momentos como este.

A Natasha não terminava, eu ainda estava no primeiro copo e tudo já estava muito alegre e girando. Eu ainda tinha que tomar banho. Será que conseguia levantar e ir pro banheiro sozinha? Meu nariz ainda formigava e eu tinha que levantar.

Tomar banho foi gostoso, eu sorria feito uma boba, até parecia sóbria para quem olhasse. E dormir foi delicioso, capotei como um bebê que ainda via tudo girando e não pensava em nada. Acordar não teve problemas, nem dor de cabeça nem nada. Somente lembranças de uma noite muito feliz e uma garrafa de Natasha inacabada. Talvez beber seja irresponsavelmente divertido e com certeza, às vezes, necessário para não parar de rir. E talvez, só talvez eu queira fazer isso de novo.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

A Idéia...

Ficar deitada sem pensar em nada, dando a liberdade do cansaço tomar conta de todo o seu corpo até não agüentar mais e se render ao sono. Isto é o que normalmente deveria acontecer todas as noites.Porém, nem sempre tenho este privilégio de sentir-me mais leve. Às vezes, um surto toma conta de mim, torno-me uma obsessiva com uma única missão para ser cumprida: redigir a idéia. Ela que no decorrer dos séculos transformou-se do abstrato ao concreto, de uma generalização para uma simples especificação, hoje é exposta da maneira contemporânea, sem nenhum parâmetro para privá-la da expressão.

Minha obrigação com a idéia é algo que eu me imponho, porque tenho medo de perdê-la. Assim como ela vem, subitamente, de alguns ajustes de pensamentos mal resolvidos, ela pode seguir seu percurso com o vento que nunca se cansa de soprar em minha mente. Espera-se que ela ao menos tenha piedade desta mente cansada de se exercitar o dia inteiro e entenda que até mesmo o aprisionamento tem um bom resultado quando cumprido o seu objetivo.

E quando a missão que deve ser cumprida é somente se fixar na mente como uma pedra que não voa nem mesmo se um furacão passar ao seu lado, o mínimo que deve ser feito é fazer-se presente. É assim que eu me vejo ao lamentar uma idéia perdida, em conflito comigo mesma por ela ter ido embora e eu não a ter anotado e aproveitado antes. O mais importante para uma pessoa insanamente perdida é levantar da cama, custe o que custar, e colocar a idéia no papel, nem que seja somente uma frase para a lembrança.

Ser loucamente esquecida e preguiçosa só te faz criar métodos lusitanos para não perder a idéia. Por isto peço para ela. Por favor, apareça quando eu estiver disponível. Dentro do ônibus a caminho de casa, em um dia no trabalho, logo de manhã no café da manhã quando eu ainda tenho o dia inteiro para aprimorá-la, mas não antes de dormir!

Mesmo a noite sendo o momento mais propício e cheio de características para a escrita, não acredito que a noite mal dormida vai me agradar no dia seguinte. Mas se é esse o sacrifício necessário para sentir-se satisfeito com um bom texto, então me sinto feliz em fazer esse sacrifício.

Alícia Villanova.