segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Como respirar em Vênus.

Eram as mãos juntas em sinal de concordância, a caricia que nunca faltava entre a suavidade dos dedos. Um olhando pelo outro, sempre. O mais importante era ficar tudo bem entre eles, não havia diferença que pudesse atrapalhá-los. Tudo na mais simples harmonia, pois nada podia atrapalhar aquilo.

Num determinado segundo, ele afirmou, ao observá-la de longe. “É a minha missão. Fazer ela ficar bem, torná-la segura de si mesma.” Ela estava radiante, brilhava como as luzes que iluminavam seu cabelo dourado. Sorria por tê-lo por perto, gargalhava com uma piada, ria ao ver ele fazer tudo por ela e por todos que ela amava. Era encantador entrar neste universo de sintonia.

Ela comia do prato dele e ele roubava o pedaço de bolo dela. Compartilhavam momentos, sentimentos e palavras. Estavam naquela fase que um já terminava o que o outro ia falar. Não importava quem ia contar a história, ele se sentia satisfeito por ouvi-la contar e ela o perguntava antes se ele queria explicar o que havia acontecido. E o que tinha acontecido era o respeito, a aceitação e principalmente amor.

Da cinzas que restaram de relacionamentos doloridos os dois conseguiram criar uma faísca, grande o suficiente para acender uma chama. Forte e quente ela guiava os dois rumo a uma união sadia, que os tornava grandes.

Um beijinho na testa, um carinho na bochecha, “eu te aceito”, “você me aceita”. Não havia ilusão, era tudo tão perfeito, porque eles se amavam do jeitinho que eram. Dois corações, agora, calmos tentando se entender e se ajudar em uma jornada que, talvez, não tivesse lugar para aquela união no futuro.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Quando está tudo calmo.

Nada a declarar? Portanto silêncio. A boca fechada quer dizer nada. Nenhuma manifestação. Não é um momento que precisa de comentário. A falta de associações de pensamentos para o agora geram, um certo, conforto; comodismo. Puro ócio de idéias, estagnação. Como uma pessoa que não tem prazer nem desprazer, somente continua a criar mais lixo no mundo.

Seus passos são o da inércia, “sigo o caminho que me foi escrito”, puro conformismo. Aceitação barata, dos que tem pouca coragem e mente fraca, para lutar pela única coisa que deveria importar tudo: ele mesmo. Posso seguir parado? A inércia dos que vivem inertes...

O nada é o nada, mas por ser nada também pode ser tudo. O não fazer nada é um aceitar tudo. Viver de nada é se conformar com a indecisão em tudo. O quão desequilibrado você está diante do tudo e do nada?

Seria tudo questão de ponto de vista? Analisando um lado você está parado e do outro caminhando. Será que o caminho que todos seguem é realmente andar? Imitar é fácil. Difícil é sentir o joelho latejando, porque você ainda está engatinhando no seu próprio rumo. Você agüentaria ver ele sangrar?

Fugir para a paralisia é confortável, é aceitar, é desistir de si mesmo. E por mais lamentável que seja observar a estagnação dos conformados, há sempre mais um vendaval a frente para gerar turbulência no vôo.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

O que faz o tempo parar.

Se é para valorizar que seja este momento,
Com enfeites pendurados para entreter o consciente.
Abrir-se à sutil percepção do contentamento,
Para convencê-lo de que o agora se faz presente.

Lembrar constantemente da existência do tempo.
Lamentar o passo que não quer passar sem passar,
E a presença que insiste em ficar e se consolar.
É o eterno intento intencionado pelo descontentamento.

Caminhar pelo masoquismo do sentimento indescritível
Tornar cada decisão parte da sensação intangível.
Olhar com o brilho de quem anseia o que não existe.
Só conhecer a vontade e viver aquilo que não se resiste.

O impossível te impossibilita de se abrir,
A porta atrás que não se fecha não cansa.
Um toque te toca de nostalgia, dói para sorrir.
Fica no peito o que ficou para arder de lembrança.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

O toque do desequilíbrio.

Tudo feito para você saborear o momento mais podre da sua vida, expondo tudo aquilo que você não imaginava que existia dentro de você, com quedas e recaídas que te transformavam no mais ridículo dos seres. Estando presente em milhares de situações inusitadas, das quais você jamais irá esquecer por serem tão fora do padrão de tudo o que você é ali dentro.

Os primeiros passos são o da ilusão. O sonho e a fantasia te dominavam e os fatos tornaram-se distorcidos a ponto de confundir o que é o certo e o errado. Os parâmetros foram todos questionados e a realidade é colocada em cheque. A dúvida toma conta do corpo, o desejo de chegar logo em algum lugar mata qualquer certeza e o mínimo de garantia que existia evapora.

Não se pode deixar a insanidade dominar para somente buscar o prazer imediato e somente sobreviver. Os desejos não podem se confundir com o prazer. O que é esta necessidade constante de se sentir bem? Até que ponto o prazer está relacionado a felicidade? Confusão entra em cena e os conceitos se misturam a ponto de questionar tudo. Porém as conclusões são individuais, cada um monta a sua e decide o que é melhor para si dependendo do estilo de vida que acha melhor viver. Considerando que, acima de tudo, nenhuma delas é melhor que a outra ou certa ou errada. São todas experiências de vida.

Mas será que o imediatismo merece ser louvado a ponto de desvalorizar qualquer planejamento a longo prazo? Vivam o Carpe Diem como alguém que só quer poupar a vida longa que se pode ter. O instante é essencial para tudo. O Agora é tudo. Este momento é a sua vida inteira, e quem definiu isto foi você. Parabéns, você acabou se tornar a pessoa mais egoísta! Esquecendo dos outros e da a sua contribuição com o mundo.

Tornar-se um nada faz parte das escolhas. Para quem o agora é tudo, o futuro é nada. A filha da putagem rola solta e o amor é questionado. Quem não se ama vai conseguir amar alguém?

Por isto, escolha aquilo que te torne mais do que um animal, um homem pré-histórico que vive pelo instinto. Seja grande, cresça, deixe-se sentir a dor e amadurecer. Não adianta nada se fechar, porque você descobriu que o mundo não é um mar de rosas. Se conforme, o príncipe encantado não existe, a princesa é humana e pode ter chulé, o homem é injusto, fila do banco cansa, vão fazer muita sacanagem com você muitas fezes. Você vai se revoltar, se entristecer, mas o melhor vai ser superar isto e perceber o quanto você poder crescer com isto. Invista na revolta, ela é lucrativa se souber criar dela uma oportunidade. Tenha a calma...

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Posição Tartaruga de Defesa.

De sua base ela podia ouvir a preparação que havia nos outros quartos. Era perigoso sair sem cautela naquele campo minado. Cada passo precisava ser precisamente calculado, sua estratégia de ataque havia sido armada. Após abrir a porta ela correria até a sala e aguardaria encostada na parede do lado do corredor, assim pegaria de surpresa qualquer uma que ousasse passar e atacá-la.

Aquilo não era um jogo com limites. Era guerra! Não havia restrições, qualquer uma fazia suas próprias regras. Não teria como apelar para ninguém depois, pois, ali, elas eram filhas de ninguém e estavam exposta à sujeira do que era aquilo tudo. Só poderiam apela e clamar por alguma interferência divina.

Ouviu-se uma porta abrir, alguém finalmente decidiu sair e dar a cara para bater. Atentou-se aos sons do caminhar com meias, suave e sutil, incapaz de acordar alguém que dormia. Com as mãos fixas na parede e ouvidos aguçados ficaram as duas na expectativa aguardando o encontro. Passou-se muito tempo e nada acontecia, ficar somente esperando era agonizante quando se deve ficar alerta. Não há ser humano que agüente tal ansiedade diante do perigo inevitável.

A tentação de olhar para a outra parte da casa era grande, mas fazer isto era revelar a sua posição. Muito perigoso! Mas será que era melhor ficar só esperando mesmo? Insatisfeita com a dúvida, ela decidiu arriscar. Assim que deslocou sua cabeça um pouco para frente, possibilitando visualizar o corredor inteiro, ela encarou a pessoa que estava fora do quarto. Um choque se estabeleceu entre os dois olhares que se encaravam assustados e ansiosos para a ação.

De repente, escuta-se mais um porta se abrindo. Era a terceira pessoa da casa que demonstrava estar viva e não hesitava em atacar com tudo, sem estratégia nenhuma, simplesmente sendo impulsiva e dando início a mais uma guerra de travesseiros.

O mais importante era derrubar as adversárias e roubar suas armas. A sala se tornava palco para uma perseguição acirrada, os ataques eram intermináveis e sentia-se o cansaço dominar os corpos aos poucos, até haver a necessidade de apelar para água, e todas aceitarem um pausa, na qual elas seriam desprivilegiadas e juntamente beneficiadas.

A liberdade dava-lhes a oportunidade de criar regras e cabia a elas aceitar ou não. Uma decisão, como unir forças contra uma pessoa que merecia ser esmagada, era subitamente criada e apoiada por uma seguidora. Duas contra uma podia ser covardia, mas ninguém estava preocupado com isto, elas só queriam a diversão a qualquer preço.

Em um momento de ataque enfático sob àquela que lutava sozinha, ouviu-se o grito “posição tartaruga de defesa” e ela se encolheu toda, acreditando formar um casco como o da tartaruga. Doce ilusão, as duas guerreiras continuavam o seu ataque tentando desmembra-la com o impacto dos travesseiros no corpo dela.
E ficaram as duas batendo na suposta pedra até se cansarem. Ficou chato, a menina ficou ali quieta sem reagir. Assim não tinha mais graça. O divertido era ver ela fazer escândalo, gritando e berrando feito uma boba. Coisa típica de irmã caçula.

Mas no final a aventura havia sido divertida, elas criavam um universo mágico por alguns minutos e esqueciam das responsabilidades, da pose, de tudo que as tornava adultas e viravam somente três “meninas perdidas”. O que restava era somente a afirmação entre as respirações cansadas: “Precisamos fazer isto mais vezes”.