sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Terminal Ana Rosa

Os pingos caiam enlouquecidamente no asfalto, a velocidade com que eles chegavam ao chão só aumentava, criando, aos poucos, um mar transparente e turbulento. Os trovões grunhiam ao fundo ecoando por todos os sentidos. E os raios iluminavam mais ainda o dia com doses de desespero.

Pessoas correndo, carros desesperados, ônibus tentando cumprir a sua obrigação com o transporte público e a ambulância cortando apressadamente o caminho das gotas d água que insistiam em cair.

A sinfonia não tinha fim, os violinos da metrópole espalhavam o caos ensurdecedor, os tambores auxiliavam criando o medo. Mas o coro ao fundo, era como uma droga intoxicante, que não abandonava a música nunca.

O cigarro espalhava a tensão por toda a atmosfera. Estavam todos preocupados, quando é que ela ia acabar? Não se sentia mais o suor de todos no ar. Ficara somente o frescor dos dias de verão, numa cidade tão grande que não pára para sentir a chuva.

Aprisionadas, as pessoas se sentavam no banco de concreto e aguardavam. Observavam homens e mulheres passarem com diferentes tipos de sombrinhas. Todos corriam de um lado ao outro do terminal. Por quanto tempo será que ficariam ali até a chuva passar?

Eram escravos do tempo neste momento. Sentiam-se enfraquecidos, incapazes de fazer qualquer coisa para seguir em frente. Estavam a deriva, enquanto a finalidade da chuva não era prevista.

A impotência de todos fervilhava. Qualquer decisão acarretava em uma conseqüência desagradável. A melhor era ficar ali quieto até obter-se a garantia de que tudo havia passado. Em alguns casos, ficar parado era mais perigoso do que tomar a chuva e pegar uma gripe.

O medo dos próprios pensamentos levava algumas pessoas a saírem na chuva atropelando todos os olhares pelo caminho. Abandonado, o terminal continuava cuidando daqueles que aguardavam e meditavam. Os mendigos e pedintes.