Suavemente ela deixava os pés percorrem por toda a superfície da calçada para ser arrastada pelo tempo, sentia-se completamente perdida em devaneios. Os olhos não processavam o que viam corretamente e seus sentidos ficavam difusos diante às emoções aprisionadas.
Devia ser a vontade de voltar ao tempo, de reviver uma época específica que a fazia perceber que é impossível matar um sentimento. Nada havia sumido de dentro dela, as faíscas criadas em uma noite permaneciam aquecidas em fogo brando. Não conseguia jogar ao vento o calor que acalmava seu coração.
Olhou para o poste da rua, será que ele vai apagar quando eu passar? Ela adorava estas idéias, enquanto todos morriam de medo do que poderia acontecer ao passar ao lado dos postes, ela somente ria e se divertia com as falhas das criações humanas. Mas no meio daquela luz tinha uma coisa voando, se mexia delicadamente, caindo leve como uma pluma e espalhando cor e brilho para baixo. Colocou a mão na testa para enxergar melhor, e viu, bem mais perto, agora, uma fita rosa. Encantada correu para pega-la.
Era daquelas fitas que todas as moças colocam na roupa para ficar mais belas. Sorrindo lembrou-se de vestidos maravilhosos com os quais ela ficaria linda. Era somente um acessório, mas poderia fazer toda a diferença em uma roupa, do mesmo modo que um olhar também consegue mudar tudo.
E foi assim que ela entrou naquele paraíso entorpecente, a magia de um sorriso criou o primeiro brilho de luz, a chama daquela fogueira já se propagava, mesmo quando, ninguém imaginava que aquilo era possível. A fita conseguira enroscar duas pessoas tão diferentes uma da outra. Os nós começavam a ser atados no peito e uma vez feitos, sofre-se com a eternidade das marcas.
Era uma fita para este lado, a outra para aquele e juntos formavam um lindo laço. Quanto mais bem feito, mais bonito ficava. Os laços frouxos ou muito fortes nunca duravam, ou eles se desatavam ou, com a maior brutalidade, arrumavam uma tesoura para terminar com tudo de forma ignorante.
Mas aquela fita era a representação daquele laço, aquelas marquinhas eram a lembrança de fortes emoções. Era algo reconfortante reviver. Dava vontade de sorrir e chorar ao mesmo tempo, pulou na guia da calçada e deu um rodopio que levantou sua saia. Tudo se misturava dentro dela e ela só conseguia ter certeza de uma coisa, que a fita, agora, não tinha nó nenhum, somente uma parte amassada que ela carregava no coração.