sábado, 28 de novembro de 2009

O travesseiro estava tão fofinho, tão gostoso. Ela não conseguia tirar a cabeça dele, sentia-se exausta e não queria sair dali de jeito nenhum. O mundo dos sonhos havia a consumido por completo, ela observava-se subindo, subindo, subindo em busca do inatingível. Seu braço estava tão próximo de todo aquele prestígio, o troféu que iria carregar.

Seria capaz de afastar tudo o que era necessário, via somente o objetivo. Queria ver-se linda, maravilhosa, com um espelho cheio de flores e bajulações. Estava cometendo um enorme pecado e nem ao menos conseguia olhar dentro de si mesma.

Era uma escolha. Havia decidido por aquilo que a fizera ter brilho nos olhos, o desejo de ver do palco a platéia aplaudindo de pé. Mas esquecera de alguns detalhes no meio do caminho. Perdeu seus princípios em um passo em falso. Completamente cega caminhava lentamente para a sua cruz, sem nem ao menos perceber. Seu lema era se enganar constantemente com atitudes racionais, grande engano.

Era muito mais emocional do que imaginava, sentia a culpa, o amor, o remorso e principalmente o arrependimento. Foi neste instante que se percebeu completamente humana, suas atitudes de deusa acabavam por aqui. Ela tinha compromisso com quem cativava e estava pagando muito caro por ter faltado com isto.

Tudo isto porque o troféu havia sido estilhaçado no chão. Agora ele não valia mais nada, eram somente cacos espalhados por todos os lados. Foi preciso se cortar em diversas partes do corpo e sentir o sangue escorrer pela sua pele, para perceber que tudo aquilo era uma ilusão.

Notou que na verdade os problemas que a feriam eram porque ela não fazia parte daquele mundo, o seu jeito não encaixava ali. Estava buscando ser algo que não era. Ainda tinha toda aquela essência dentro de si. Por isto, diante de tudo, notou que estava sozinha.