domingo, 11 de janeiro de 2009

Entre olhares e risos.

Rindo meio sem jeito ela sentia o calor da reciprocidade naquele momento. Eram duas pessoas que, em alguns momentos, lembravam o prazer de contemplarem-se. Ele sem querer encostou os dedos no braço dela. Ela ansiou por mais, desejava a doce ousadia dele.

Sem jeito, ele perguntou para ela como era morar na cidade grande. Ela respondeu com o brilho das estrelas refletido nos olhos. É como se viver no céu e no inferno, dia e noite. As sobrancelhas franzidas demonstravam curiosidade. Ela sorriu e explicou. A cada passo que você dá, em um uma simples caminhada na Paulista, por exemplo, você se surpreende e pode se apaixonar ou odiar o que encontra. São mendigos em estado lastimável no chão da rua em frente a uma maravilhosa livraria transbordando cultura. É como se os opostos se unissem para formar parte de um só lugar.

É a ironia de ser parte da mesma moeda, que faz com que eles fiquem lado a lado. Ele disse e olhou profundamente nos olhos dela. Ela esperou por uma atitude dele. Quando ele olhou para frente ela decidiu perguntar. E como é viver no interior? Ele abriu um sorriso e olhou para o chão, indeciso, reconsiderou e decidiu extravasar o sentimento. É sentir o cheiro da chuva na terra, os grilos e sapos durante a noite, apreciar uma intimidade constante com o resto da cidade e admirar as estrelas a noite. Quando terminou ele olhava para o céu de maneira muito profunda e relatou. Quando eu era um garoto, minha mãe me levou para passar uns tempos na casa da minha avó em São Paulo, eu fiquei a noite inteira lamentando que não tinha estrelas no céu, eu achava que um monstro gigante tinha comido todas elas da cidade, eu fiquei com medo que ele fosse me atacar. Terminou o relado com uma gostosa risada que foi imediatamente acompanhada.

Quando o riso terminou, ela colocou a mão no rosto dele. Queria que a água da sua boca se juntasse com a dele. Ela praticamente implorava. Me beija. Ele pegou na mão do rosto dela e a retirou, sem em nenhum momento perder a maior ligação que eles tinham. O olhar. Quando ela ia começar a desviar ele avançou nos lábios dela.

Perceber que seu braço estava tremendo a fazia sentir como uma menina. Havia algo tão lindo entre eles que ultrapassava os instintos e o puro desejo físico. Era a consciência de que aquilo era perfeito e podia ser muito mais do que um futuro relacionamento. Era a incerteza da dimensão que aquilo tomaria na vida dos dois e a certeza de que, momentos como este te acompanha por uma vida inteira. Só queriam sentir o prazer do encanto que os unia.